A Fenassojaf continua a série semanal de entrevistas com Oficiais de Justiça e Agentes de Execução no mundo para tratar dos efeitos da pandemia do novo Coronavírus. Nesta sexta-feira (15), o entrevistado pelo vice-diretor Financeiro e responsável pelas Relações Internacionais da Federação, Malone Cunha, é o Oficial de Justiça Procurador espanhol Luís Ignácio Ortega Alcubierre.
Ortega Alcubierre é Oficial de Justiça Procurador na cidade de Saragoça desde 1975 e, atualmente, ocupa o cargo de Vice-Presidente da União Internacional dos Oficiais de Justiça (UIHJ).
Em 2019 ele esteve no Brasil onde participou do I Seminário Internacional de Oficiais de Justiça realizado pela Fenassojaf em Brasília (DF).
A entrevista completa com o espanhol pode ser assistida no canal da Fenassojaf no YouTube (CLIQUE AQUI) ou através da transcrição abaixo. Confira!
MALONE CUNHA: Olá Luís. Gostaria de iniciar perguntando o que é um Oficial de Justiça Procurador na Espanha?
LUÍS IGNÁCIO ORTEGA ALCUBIERRE: A profissão de Procurador na Espanha remonta a pelo menos 1396. É uma profissão essencialmente liberal, colaborando por sua vez com a administração da justiça. Sua principal função é a representação de litígios em juízo e a promoção de execuções judiciais em benefício de seus clientes. Você também pode lidar com notificações, pois possui recursos de certificação.
MALONE: Sabemos que a Espanha é um dos países mais afetados na Europa com a crise de saúde do vírus Corona. Como cidadão espanhol, como você viu o desempenho do seu governo nacional na luta contra a pandemia?
LUÍS: Pela ignorância que condiciona qualquer crítica, entendo que chegamos atrasados, tendo colocado outras considerações antes das meramente sanitárias. Um governo fraco e inexperiente não é a melhor opção nesses casos, mas insisto que não temos como compará-lo com situações semelhantes que nunca ocorreram. De fato, os cientistas de todo o mundo, que pensamos que deveriam estar preparados, também não parecem seguir um caminho claro.
MALONE: Ainda na COVID-19, como está sua rotina pessoal e a dos Oficiais de Justiça espanhóis nestes tempos de quarentena?
LUÍS: Pessoalmente, vou ao escritório duas horas por dia. Nas primeiras semanas, tudo ficou paralisado, exceto pelas atividades urgentes, mas agora a telemática, os procedimentos processuais e a intercomunicação com os tribunais foram retomados. As diligências de rua são deixadas de fora, e também todos os prazos foram suspensos.
MALONE: Luís, você já notou que na América do Sul como um todo, as entidades associativas tem um viés sindical, mais ou menos acentuado. Uma associação aqui tem o dever de se estabelecer sobre a luta por direitos. Como você vê essa característica geral da América do Sul? Como a UIHJ se adaptaria para acomodar entidades como essas?
LUÍS: A UIHJ emergiu como um movimento profissional composto por membros cujo status era liberal, portanto o viés sindical nunca foi contemplado. À medida que o número de membros cresceu, passamos a ter associações de funcionários e profissionais de todo o mundo. No entanto, nosso objetivo é a melhoria da formação e o respeito e consideração profissional, nunca seremos associados a uma reivindicação trabalhista, entendemos que existem outras opções para isso. Isso não impede a participação de suas associações e de outras pessoas na UIHJ, porque elas contribuem muito em termos de conhecimento da situação de nossos membros em cada país.
MALONE: Durante o I Seminário Internacional de Brasília, em 2019, no qual a UIHJ esteve presente, um colega do Oficial de Justiça brasileiro disse em Assembleia: fui Oficial de Justiça por mais de 30 anos, hoje estou aposentado, mas sempre acompanho a vida associativa. Eu pensei que sabia tudo sobre a profissão, mas nunca tinha ouvido falar da existência de uma União Internacional de Oficiais de Justiça, algo que só agora estou aprendendo. Luís, o que você acha disso? Por que a UIHJ levou tantos anos para chegar à América do Sul?
LUÍS: Estamos na América do Sul há muitos anos e a América do Sul está na UIHJ há muitos anos também. O Chile, por exemplo, participa há muito tempo, e com o Brasil o contato era habitual. Eu entendo, tendo viajado aqui frequentemente nos últimos anos, quase como um esforço pessoal para nos informar que o que estava faltando era isso, o entendimento de que somos uma associação que não deseja mudar sistemas, arruinar empregos ou converter todos em atividades particulares. O que queremos é aumentar a consideração dos Oficiais de Justiça, treinando, preparando e demonstrando sua eficácia na administração da justiça. E pouco a pouco, parece que a mensagem está chegando.
MALONE: Muito obrigado por esta conversa. Gostaria de terminar perguntando: como você vê o relacionamento da UIHJ com a América do Sul nos próximos anos?
LUÍS: Pois muito bem. Apenas iniciamos a jornada, que, embora infelizmente e dada a situação atual tenha sofrido um parêntese, não temos dúvidas de que ela aumentará exponencialmente. E acredite em mim, será uma enorme satisfação, como você pode imaginar.
Esta é a quinta entrevista disponibilizada pela Fenassojaf com Oficiais e Agentes de Execução estrangeiros durante a pandemia da Covid-19 pelo mundo. Todos os relatos obtidos através do diretor Malone Cunha estão disponíveis em vídeo no canal da Federação no Youtube. Acesse AQUI
Da Fenassojaf, Caroline P. Colombo com o diretor Malone Cunha