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OPINIÃO: JUSTIÇA NÃO É JUSTIÇAMENTO

OPINIÃO: JUSTIÇA NÃO É JUSTIÇAMENTO

Por Fabio da Maia

O horror ocorrido neste 28 de outubro no Rio de Janeiro, na qual bem mais que uma centena de pessoas foram assassinadas, não pode ser denominada como um ato de justiça. Uma operação oficial com tamanha letalidade não é um sucesso, como seus autores desejam propagar. Muito ao contrário. E aqui não quero nem cogitar se houve uma deliberação para eliminação sumária de quem ousasse, no mínimo, fugir das forças de segurança. Vamos analisar as coisas pelo ângulo menos radical.

Agentes públicos, como nós, Oficiais(las) de Justiça que somos, devemos nos pautar, cada vez mais, pelo planejamento das nossas ações, mesmo atuando de forma individual. Pesquisas prévias, análises de risco, estratégias logísticas de alcance e saída, e envolvimento das famílias dos(as) destinatários(as) na consecução dos nossos objetivos já são práticas indispensáveis no nosso dia a dia. E não desenvolvemos atividade letal. Em operações policiais, especialmente as de grande monta, deve haver preocupação infinda com o planejamento, com a consecução e com os resultados dos procedimentos.

Somos um estado democrático, com representantes legitimamente eleitos, instituições sólidas e com atividades regidas de forma legal. Não podemos admitir, como integrantes fundamentais de um dos poderes da República, que ainda ocorram chacinas oficiais a título de cumprimento de preceitos legais. Nem apoiar. Nem aplaudir. Simplesmente porque não há lei que subsidie tal ação. Existe, sim, processo. Existe pena. Deverá, algum dia, existir ressocialização. Existe um Estado do qual fazemos parte e para o qual trabalhamos. E esse Estado, em eterna construção, não deve mais ser regido pela lei da selva.

Escrevo esse texto em meu nome, como um manifesto particular de quem já trabalha metade da sua vida para levar, traduzir e oferecer ações de justiça a nossa sociedade. E as imagens que vi, horrorizado, não são imagens de justiça.

Fabio André Maia Hreisemnou é Oficial de Justiça da JFPR, presidente da Fenassojaf.

*Artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam, necessariamente, as ideias ou opiniões institucionais da Fenassojaf.