*Por Humberto Lucena
Um dos motivos de sobrevivência, evolução e desenvolvimento da tecnologia raça humana reside no aperfeiçoamento de sua capacidade gregária. Estar próximo dos seus semelhantes foi fundamental para permitir que, mesmo diante de sua fragilidade corpórea, houvesse auxílio mútuo, cuidado e defesa no processo de adaptação a lugares inóspitos, de climas rigorosos e com riscos constantes à vida.
Isolar-se, por si só, não é um ato condenável. Mas uma vida de isolamento traz prejuízos para o indivíduo e daqueles que dele precisam. O associativismo profissional é um desses fenômenos que nos fazem sentir pertencentes, vivos, conectados às dores e necessidades de quem cerra fileiras conosco.
Recentemente estive no México. Coincidentemente, numa roda de conversas conheci uma Oficiala de Justiça da Justiça do Trabalho do Estado de Chiapas, ao sul daquele país. E entre a troca de informações sobre a carreira, fico sabendo que: a) tal qual no Brasil, existem Oficiais de Justiça Federais e Estaduais, porém com nomenclatura diferente (Actuario y Noctificador); b) a Justiça do Trabalho Mexicana é considerada Justiça Estadual; c) os Oficiais Federais recebem aproximadamente o dobro dos Estaduais (R$ 12.500,00 e R$ 6.000,00 respectivamente e aproximadamente); d) é possível ascender entre os cargos dos Judiciário, de modo que o oficialato é apenas mais um posto na escala promocional; e) do ponto de vista formal, o ingresso no cargo é por concurso, mas, de fato, está mais para um cargo em comissão, pois é necessário conhecer alguém no governo que o indique para o cargo; f) há um desejo de se ter uma carreira judicial reconhecida e respeitada e riscos constantes de violência contra oficiais de justiça.
O último ponto me chamou atenção: é proibido o associativismo na forma sindical ou de associações para Oficiais de Justiça destes servidores pelo próprio entendimento do Poder Judiciário Trabalhista daquele Estado. Creio que isto explica muita coisa. Nossas “causas” têm uma causa: estarmos alinhados, solidários, associados e enfrentando os recorrentes ataques contra nosso ofício. Quem disto se distancia ignora a mais comezinha noção de sobrevivência no mundo do trabalho. Alguns ditados têm correspondência transnacional: “casa de herrero, cuchillo de palo”.
*Humberto Lucena é Oficial de Justiça Federal do TRT da 21ª Região