Por Paula Drumond Meniconi – diretora de comunicação da Fenassojaf e diretora da Assojaf/MG
“SE A NATUREZA FOSSE UM BANCO, JÁ TERIA SIDO SALVA” – Eduardo Galeano
Com um misto de dor e revolta os mineiros receberam a notícia do crime ambiental ocorrido no dia 25 de janeiro. Sim, crime. Acidente não foi. Um novo crime que ocorre quando ainda não houve sequer reparação para as vítimas de Mariana. Estamos sangrando com as imagens e os relatos. Estamos todos soterrados pela lama que (en)cobre uma privatização também criminosa.
A Vale foi leiloada em 1997. À época avaliada em R$92 bilhões, com um lucro de R$12,5 bilhões, foi vendida por R$3 bilhões. Hoje é a empresa que mais deve ao Estado Brasileiro. À Polícia, ao MP e à Justiça competem a apuração de responsabilidades, denúncia e condenação dos envolvidos.
A nós da Assojaf/MG, cabe, antes do mais, prestar ajuda e solidariedade a todos os atingidos, humanos e não humanos. Não nos esqueçamos dos animais, vítimas sem voz e protagonistas de cenas chocantes veiculadas pela mídia. Não nos esqueçamos dos rios. Não nos esqueçamos que, ao lado do minério de ferro de que são feitas as Minas Gerais, estamos nós, mineiros, feitos de sentimento e emoção.
Importante, também, refletir acerca do capitalismo – do neoliberalismo – em que se busca o lucro máximo com o custo mínimo. Algum tempo após o crime ambiental ocorrido em Mariana, uma das vítimas – já (mal) instalada em um dos precários espaços cedidos pela Vale – disse em entrevista: “Em minha casa eu tinha quintal, tinha minhas árvores, o pomar, meus cachorros, eu era feliz”. À Vale cabe o lucro. Às Minas Gerais o luto. Cabe-nos enterrar nossos mortos, secar as lágrimas e seguir em frente. Luto é verbo, já dizíamos há algum tempo…
Encerramos com a fala de nosso Poeta Maior, Drummond:
I
“O Rio? É doce.
A Vale? Amarga.
Ai, antes fosse
Mais leve a carga.
II
Entre estatais
E Multinacionais,
Quantos ais!
III
A dívida interna.
A dívida externa
A dívida eterna.
IV
Quantas toneladas exportamos
De ferro?
Quantas lágrimas disfarçamos
Sem berro?
Fonte: Assojaf/MG