Morte do Oficial De Justiça reafirma sobrecarga de trabalho e coloca categoria em alerta
O Oficial de Justiça Maikon Gomes Coutinho, de 38 anos, foi encontrado morto na sala dos Oficiais do Fórum de Quixadá (CE), na noite da última sexta-feira (06).
Segundo o sindicato do Ceará, ao que tudo indica, a sobrecarga de trabalho teria sido uma das motivações para o servidor tirar a própria vida. Às 18h14, instantes antes da tragédia, ele enviou uma foto no grupo dos Oficiais de Justiça de Quixadá no Whatsapp, de duas pilhas de mandados judiciais acumulados em cima da mesa, com a chave de seu veículo em cima.
Em seguida, às 18h37, ele teria enviado um e-mail de despedida para a esposa, Vérica Sales, com quem se casou no último mês de abril, explicando que o sofrimento já existia há muito tempo, mas que teria se agravado de forma significativa em decorrência dos últimos acontecimentos. “Ser transferido compulsoriamente para Quixadá foi a gota d’água”, afirmou. Acrescentou, ainda, que “essa dor já me consome há muito tempo e realizar as atividades mais triviais do cotidiano se tornou algo colossal”. A esposa conta que Maikon sofria depressão e que todos os dias manifestava insatisfação pelas condições de trabalho.
“Ele guardava tudo isso, porque não demonstrava. O Maikon sempre foi muito alegre, carismático, educado e cordial. A melhor pessoa que eu já conheci na vida, um homem companheiro, carinhoso, sempre disposto a ajudar as pessoas. Está sendo muito difícil”, falou Vérica.
Ainda de acordo com o sindicato, os dois Oficiais de Justiça lotados na comarca de Ibicuitinga foram removidos compulsoriamente, por meio da Portaria nº 09/2020, para Quixadá. À época, o juiz diretor respondendo pelo fórum determinou a inclusão dos dois servidores lotados na comarca agregada de Ibicuitinga na Central de Mandados Judiciais de Quixadá, e que os mesmos deveriam estabelecer três dias da semana para cumprir as diligências na comarca agregadora de Quixadá. Determinou, ainda, que os plantões judiciários fossem cumpridos mediante escala a ser definida pela Ceman de Quixadá. “Foi justamente durante o plantão judiciário em Quixadá que o Oficial de Justiça, sem suportar a pressão, sucumbiu. A legenda da foto com a pilha de mandados enviada no grupo dos oficiais de Quixadá instantes antes de cometer esse ato extremo tinha como legenda “viva a gestão humanizada””, afirma a reportagem do Sindojus/CE.
Maikon deixa a esposa e uma filha de 1 ano e 11 meses.
Suicídio reafirma sobrecarga de trabalho e coloca Oficiais de Justiça em alerta
O ato cometido pelo Oficial do TJCE reafirma a sobrecarga de trabalho de todo o oficialato federal e estadual que sofre com a defasagem do quadro e a falta de nomeações. Diariamente, os Oficiais de Justiça são surpreendidos com a imposição de novas determinações para o cumprimento de metas cada vez mais altas.
Não bastasse isso, em muitos casos o Oficial atua sozinho em sua área de jurisdição, sem qualquer tipo de proteção ou treinamento para as situações de risco.
Nos últimos 7 anos, é ele quem arca com as despesas pela utilização do veículo próprio para as diligências, sem o devido reembolso dos preços exorbitantes de combustível e manutenção dos automóveis. Além das perdas remuneratórias sofridas nos salários, a categoria também sofre constante ameaça de extinção e desvalorização do cargo, além da retirada de direitos.
A Fenassojaf lamenta, com profundo pesar, o falecimento do Oficial do TJCE Maikon Gomes Coutinho e reafirma o empenho na atuação por melhores condições de trabalho e saúde para o oficialato federal da União.
Condolências a todos os familiares e amigos do colega Maikon.
Da Fenassojaf, Caroline P. Colombo com informações do Sindojus/CE
Fotos do arquivo pessoal de Maikon Gomes Coutinho