“Fiquei internada por uma semana e tive que deixar o meu marido e os meus 3 filhos em casa, todos com Covid, também. Cheguei a desmaiar por falta de ar, minha saturação chegou a 83, mas não precisei ser entubada graças à prática de exercício respiratórios que pratico a quase duas décadas, na Ioga, RPG e Pilates. Mas fiquei durante cinco dias no oxigênio. Tive micro embolia e precisei utilizar anticoagulante. Após um mês de alta hospitalar ainda apresentava 25% de comprometimento pulmonar em virtude dos micro coágulos que se acumularam nos pulmões. Precisei me submeter a tratamento dentário, uma vez que o vírus atacou as gengivas. Também tive comprometimento na lacrimação, meus olhos ficaram secos e tive que fazer tratamento oftalmológico. Ainda passo pelo neurologista todos os meses, uma vez que apresentei sequelas neurológicas (lapsos de memória, cansaço, dificuldade de concentração, tontura, entre outras); também fiquei com muitas manchas escuras nas pernas em virtude do problema de coagulação e, conforme o hematologista, estas manchas dificilmente desaparecerão. Mas estou VIVA e agradeço ao Universo todos os dias por ter a oportunidade de estar aqui, eu e minha família”.
É com este relato que a Oficiala de Justiça da CIAO de Santos (SP), Lilian Marya Martins Araujo, lembra dos momentos passados em 2020 quando obteve o diagnóstico positivo para a Covid.
Servidora do TRT da 2ª Região desde junho de 2002, Lilian segue com medo diante da apresentação de novos sintomas e a possibilidade de ter sido infectada pela segunda vez com a doença.
Devido ao acúmulo dos mandados oriundos do período de quarentena, a Oficiala de Justiça explica que estava cumprido mandados presenciais para amenizar a quantidade de diligências paradas. “Noto que grande parcela das pessoas com quem tenho contato não se preocupa com os protocolos da Covid, como o uso de máscara, o distanciamento mínimo e até mesmo o isolamento, quando apresenta algum sintoma. Houve um caso em que o destinatário solicitou que eu subisse até o apartamento para receber a ordem judicial e, segundo me informou o porteiro, tratava-se de pessoa idosa. Subi e entrei no apartamento que se encontrava com a porta aberta. O destinatário estava com um aspecto horroroso, deitado no sofá e espirrando. Pediu-me desculpas por me atender naquelas condições, pois, além de idoso e apresentar dificuldade de locomoção, estava "meio gripado". Mantive-me o mais distante possível do sofá, comuniquei-lhe o teor do mandado, deixei a contrafé sobre a mesa da sala e fui embora”, conta.
Adepta da greve sanitária aprovada em Assembleia do Sintrajud e reforçada em deliberação da Aojustra, Lilian pondera que apesar de já ter contraído Covid logo no início da pandemia, não se sente imunizada para seguir com o trabalho nas ruas. Quanto aos procedimentos do Tribunal para a segurança do oficialato, avalia que os materiais distribuídos aos Oficiais de Justiça (máscaras, face shield, álcool em gel) são “praticamente descartáveis e a palestra apresentada quanto ao uso dos equipamentos e as medidas a serem adotadas pelos Oficiais para evitar a contágio, deixou muito a desejar, uma vez que tratou apenas do óbvio, daqueles cuidados que devemos tomar no dia a dia”.
Para ela, o melhor procedimento a ser adotado neste momento de nova crise do coronavírus seria a suspensão das diligências presenciais com manutenção do trabalho remoto e espera da melhoria das condições sanitárias para a execução dos mandados represados.
“A doença é MUITO GRAVE e todo o cuidado é pouco. Caso eu não receba o retorno do convênio médico ainda hoje, provavelmente eu arque com o custo do teste e colha o material, pois estou realmente à beira do pânico. Ainda não superei as sequelas da primeira infecção, o que pode me acontecer caso esteja realmente reinfectada?”, desabafa.
“Como eu posso sair para as ruas sem ter certeza de que não sou vetor dessa doença terrível? E com a proliferação de novas cepas, altamente contagiosas, como me proteger de forma segura. A greve sanitária é a única alternativa para pressionar o TRT-2 a zelar de forma adequada pela nossa integridade física e emocional. Outros tribunais já retrocederam e retornaram ao teletrabalho. Já passou da hora. Quantos ainda precisam perder as suas vidas para cair a ficha?”, finaliza a Oficiala de Justiça.
As diretorias da Fenassojaf e Aojustra se solidarizam com a colega Lilian Marya Martins Araujo e os demais Oficiais de Justiça e servidores de todo o Judiciário que foram infectados pelo coronavírus no Brasil.
Atualmente são 38 Oficiais que não resistiram à contaminação da doença e outras centenas que, assim como Lilian, passaram por momentos que resultaram em graves sequelas.
“É preciso que tenhamos consciência da gravidade da doença e resguardemos a nossa vida e de toda a população”, afirma o presidente da Federação Neemias Ramos Freire.
Fonte: Aojustra, editado por Caroline P. Colombo