Por Paulo Alves – presidente da Assojaf/GO
No último domingo (9), o falecimento do oficial de Justiça do Poder Judiciário de Estado de Goiás, José Bento Tavares, da comarca de Inhumas, somou-se à marca de 16 oficiais de Justiça mortos em decorrência do novo coronavírus. Como milhares de colegas em todo o Brasil, José Bento, de 68 anos, continuou exercendo regularmente as atividades exigidas por seu trabalho mesmo diante dos riscos inerentes à profissão nesse período de pandemia da Covid-19.
É provável que, para a maioria das pessoas, a morte deste oficial de Justiça seja contabilizada apenas como mais uma entre as mais de 100 mil mortes no País provocadas por este vírus. Estatísticas, apesar de sua inegável relevância como instrumento para quantificarmos os mais diversos eventos, têm o efeito de nos dessensibilizar: a ilusão de que a tragédia da pandemia é algo distante e não irá nos atingir é um dos fatores que pode intervir, pessoal ou coletivamente, no enfrentamento da situação de forma responsável e consciente.
Embora a violência seja um dos grandes perigos que o oficial de Justiça encontra no exercício de sua profissão, a exposição deste profissional a doenças infectocontagiosas faz parte de seu cotidiano. Obviamente, médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde são as categorias de trabalhadores mais expostas a esses riscos e merecem toda a nossa admiração.
No entanto, muitas outras categorias também são obrigadas, para continuarem oferecendo serviços essenciais à população, a arriscarem a própria vida, entre elas o oficial de Justiça. Infelizmente, este é um trabalho pouco reconhecido e sem a devida valorização, tanto por parte da população quanto pelo próprio poder público.
A busca pelo reconhecimento da atividade como sendo de risco, que é uma das principais bandeiras de entidades de defesa destes profissionais, torna-se uma questão ainda mais relevante e urgente neste contexto de pandemia. A perda do oficial de Justiça José Bento nos entristece, claro, mas sua dedicação em servir a sociedade mesmo em cenários tão preocupantes como agora é também motivo de orgulho e inspiração para a categoria continuar lutando por esse direito. Sobretudo, sua resistência e zelo com a profissão, a exemplo de outros colegas que se contaminaram e até perderam a vida na pandemia, dá- nos força para seguir trabalhando para garantir o acesso de todos os brasileiros à Justiça, nossa maior missão.
Artigo publicado nesta sexta-feira (14) no site Rota Jurídica